Eu não me sentia
desesperada. Não, eu não sou assim.
Meus olhos não ardiam de tanto chorar. Meus pulmões não
ardiam de tanto gritar.
Nada disso.
Mas um nó tinha se formado em minha garganta e as palavras
se formavam. Mas se recusavam a sair.
Tudo bem.
Eu andei até o Café mais próximo e pedi um chocolate quente.
Mensagens chegavam. Era você tentado se justificar.
Não respondi nenhuma delas.
O leite desce queimando minha garganta.
Esforço-me para não chorar em publico. Uma lágrima ou outra foge
e me livro delas no instante em que tocam minhas bochechas.
Tudo bem.
Eu não sei o que fazer depois que terminar o chocolate
quente.
Fico no Café até que me expulsam.
Mas eu não quero ir para casa. Muitas fotos, lembranças. Não
obrigada.
Deixo-me vagar pelas ruas desertas. Sei que não devia. Mas
estou pouco me fodendo.
Sem rumo. Apenas ando.
Um pé na frente do outro. Sem prestar atenção que direção eu
tomei.
Eu não ligo.
Arvores começam a se formar no meu campo de visão. Ótima
ideia. Um parque.
Acho que tenho tendências suicidas ou alguma coisa.
Ando até estar no meio das arvores.
Um banco de madeira molhado por causa do sereno parece
extremamente confortável.
Sento-me e deixo o silencio me cercar.
Fico com as mãos inquietas. Quero um cigarro. Apesar de
nunca ter fumado.
Incrível como nós não fazemos sentido.
O barulho dos animais é o único presente. Como se estivesse
em uma floresta.
- Você está bem?
Meu coração na boca. Suor escorre por minha nuca.
- Ei.
- Sim. Eu est... Sim.
A sombra ao meu lado deixa um sorriso fugir. Mas logo o
captura.
- Me desculpa se te assustei.
- Tudo bem.
Como você é inteligente Clara.
No meio do parque. No meio da noite. Sozinha.
Burra.
- Você sabe que é perigoso andar por ai sozinho no meio da
noite?
Tento responder. As palavras ainda estão presas pelo nó na
garganta.
- Eu sou Peter.
- Lara.
Por que menti?
Ele estende a mão para me cumprimentar.
Ele tem um aperta forte. Como se quisesse provar algo a
alguém.
- O que está fazendo aqui, Lara?
- Pergunto o mesmo pra você.
Ele me encara por alguns segundos.
- Não quero voltar pra casa ainda.
- Nem eu.
Silêncio.
Uma coruja se faz presente. O que porras está acontecendo?
- Eu tenho que ir.
- Mas você disse que não quer ir para casa.
- Nunca disse que iria.
- Então vamos juntos.
- Não, tudo bem. Pode fica, Peter.
Ele me olha com curiosidade.
- Por que disse meu nome desse jeito?
- Que jeito?
- Peter.
- Sai lá. Por que eu quis?
- Você está com medo?
- Não...
Por que menti de novo?
- Está sim. Eu não vou fazer nada com você. Juro.
Ele levanta as mãos em sinal de rendição.
- Estou indo.
Peter se levanta e anda atrás de mim.
- Dá pra parar de me seguir?
- Não.
- O que?
- Eu não posso.
- Como assim? Vai embora garoto!
- Não posso!
Viro-me e começo a correr.
Agora meus olhos ardem de lágrimas. Meus pulmões ardem.
Peter não está mais lá.
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